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domingo, 29 de abril de 2012

No momento mais difícil, só resta a solidariedade

            CONTINUAÇÃO # Um encontro de olhares
Após carregarmos algumas maçãs até a caverna, vi ele afastar-se mentalmente. Não respondia as minhas perguntas, muito menos as ouvia.
   Não vá! Queria resgatá-lo, mas não era psicóloga. Não tinha poder para mexer com a mente das pessoas, fazê-las se conscientizarem. Apenas podia dá-lo um beijo na testa e dizer que tudo daria certo.
   Ele começou a adentrar-se dentro da caverna. O segui e com dois pauzinhos de madeira tentei ascender uma fogueira em cima da velha.
   Realmente estávamos perdidos, e ele não queria dar-me ouvidos. Ele não queria conhecer-me, ele não queria sobreviver.
   Ele estava literalmente acabado. Para ele não havia volta. Só arrependimento e mágoa.
   Para ele voltar ao normal_ Mesmo sem eu saber como era_ só mesmo se encontrássemos a saída.
   Não sabia como ele tinha entrado nessa floresta, como ele havia se perdido lá como eu.
   Na minha parte estava caminhando no bosque até perceber que não era mais pelo mesmo bosque de sempre no qual eu caminhava todo domingo de manhã. Perdi-me da civilização.
   Agora está difícil para mim continuar estando a seu lado sem nem mesmo nos comunicarmos.
   Da vez no lago, na primeira vez que nos vimos, ele só disse um "prazer" e foi o bastante para eu já convidá-lo para tentar achar o caminho de volta comigo.
   Nem ao menos sabia se ele era da minha cidade ou não. Nem ao menos sabia seu nome.
   Os olhos que conheci chorando e agora estavam fixos na fogueira.
   Os olhos que me encararam tão severamente e deixaram-me tão confusas...
_ Você é de Slarks? Nunca te vi lá..._ Pergunto.
   Ele não responde.
   Se pudesse o perguntaria insanamente trilhões de vezes. Qual seria seu nome?
   Ele esticou sua mão até as cinco maçãs que havíamos colhido e mordiscou uma arrancando a casca e lançando-a para a fogueira.
_ Não faça isso!_ Tentei detê-lo. Parecia que algo iria sair de sua boca, mais nada, novamente.
   Peguei-me pensando em quando ele aproximou-se de mim pela primeira vez. Quando ergueu a mão para tentar levantar-me do chão.
_ Não durma, já encontrei um lobo aqui..._ E tudo ficou claro. Ele havia dito uma coisa para mim, uma coisa que abriu meus olhos para todos os acontecimentos daquele dia.
   Seus olhos repleto de olheiras por não dormir direito. Suas lágrimas de aflição. Sua aparência cansada. Deveria ter corrido do lobo. Corrido muito. Respondia o suor pingando.
_ Não durma, já encontrei um urso..._ O respondi o recado dando outro._ Só que estava longe, mesmo assim eu encontrei.
   Silêncio até ele continuar.
_ Está aqui a quanto tempo?
   Não conseguiria respondê-lo, pois já não tinha noção. Estava ali já fazia um tempo. Nem sabia se minha mãe havia se preocupado comigo. Colocado a polícia para procurar-me. Ela já devia ter perdido as esperanças.
   Realmente, já fazia um bom tempo que eu estava ali.
                    CONTINUA EM BREVE